Foto Créditos: Samuel Iavelberg

Exposição valoriza elementos que fomentam a vida cultural de São Paulo, como o rap, o pagode e a literatura de quebrada

No 469º aniversário de São Paulo, o Museu da Cidade, instituição vinculada à Secretaria Municipal…

No 469º aniversário de São Paulo, o Museu da Cidade, instituição vinculada à Secretaria Municipal de Cultura, inaugura às 14h, a exposição ‘Intersecções: Negros (as) indígenas e periféricos(as) na Cidade de São Paulo’. Com idealização e realização do Museu da Cidade, a exposição tem conceituação e curadoria de um coletivo de curadores formado pela empresária Adriana Barbosa, o jornalista Nabor Jr. e o historiador Eleilson Leite, em colaboração com a líder indígena Jera Guarani, a mostra reúne mais de 300 objetos entre fotografias, pinturas, vídeos, instrumentos musicais e figurinos de diversas linguagens artísticas produzidos por mais de 100 artistas paulistanos nos últimos 40 anos. A abertura da exposição contará com a apresentação do Coral Kalipety, formado por integrantes da Aldeia Kalipety da Terra Indígena Tenondé Porã, localizada no extremo sul da cidade de São Paulo. Os primeiros 200 visitantes irão receber um colar consagrado pelo Pajé da aldeia paulistana com a água da cachoeira Capivarí. A entrada é gratuita.

Territórios, Sujeitos e Imaginários

Setorizada em três eixos que convergem entre si, a exposição apresenta relevantes movimentos artísticos e culturais que contribuíram não somente para fomentar as narrativas negras, indígenas e periféricas na cidade nos últimos 40 anos, como também foram fundamentais para a construção do que entendemos como cultura paulistana nos dias de hoje. “Essa exposição parte de um pensamento decolonial, se hoje a gente tem um processo crítico em relação à produção intelectual e cultural, se deve a esses movimentos que ajudaram a construir esse campo de arte-ativismo que temos hoje. O Brasil é negro por um processo de autodeclaração, que vem à partir do momento em que nos conectamos com Os Racionais, com a Cia dos Crespos, além do reconhecimento da periferia como um local de produção de cultura. Com isso, essa exposição vai proporcionar ao público imergir numa contação de histórias sobre quem se é quanto indivíduos negros, periféricos e indígenas”, destaca Adriana Barbosa.

Lúdica, sensorial e educativa, a exposição irá proporcionar aos visitantes revisitar memórias e reconhecer o processo de formação de identidades e movimentos culturais a partir destes três eixos que irão aludir ‘Territórios’ como o quilombo urbano Aparelha Luzia, o Museu Afro Brasil, o Centro Cultural Quilombaque, a Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos da Penha de França, a Feira Preta, o Festival BixaNagô e rodas de samba como o Pagode da 27 e o Samba da Vela. No eixo ‘Sujeitos’, o destaque fica por conta dos vídeos da equipe de baile Black Mad e Zezão Eventos, assim como para os populares fluxos que ocorrem nas comunidades de Heliópolis e Paraisópolis. Em ‘Imaginários’, a reflexão em torno da popularização da expressão “da ponte pra cá” e do tradicional “futebol de várzea”, pois embora geograficamente não existam várzeas na cidade, também se tornou um termo comum para falar sobre o futebol amador que ocorre nas periferias. Dividir esse grande arcabouço em ‘territórios, sujeitos e imaginários’ foi a forma encontrada pelos curadores de possibilitar a compreensão sobre os espaços, pessoas e simbologias que narram essas tantas histórias interseccionadas pela exposição. 

“Essa exposição, busca, a partir dos pontos em comum que unem pessoas tão diversas, iluminar acontecimentos, artistas e movimentos culturais protagonizados por negros, indígenas e periféricos, que formam o suco da vida cultural da cidade. Não dá para pensar a vida cultural de São Paulo sem o rap, o pagode, o fluxo, a literatura de quebrada, o grafitti, a moda forjada pela juventude preta. Enfim, tentamos construir um panorama dessas produções que, se para muitos é desconhecida, para muitos outros foram responsáveis pela construção de suas identidades e sentido de pertencimento em uma cidade tão grande e por vezes solitária”, explica Nabor Jr.

Realidades em retratos inéditos

Em formato imersivo e cronológico, a exposição teve o cuidado de conectar de forma simétrica os conceitos de negritude, periférico e indígena, sem sobrepor uns aos outros, compreendendo essas zonas de cruzamento e horizontalidade. Mas sobretudo, um de seus principais desafios foi o de conseguir condensar tanta história a ser narrada ao ponto de construir uma programação que pudesse abranger toda a urbanidade paulistana desses últimos 40 anos. Por outro lado, além de trazer destaques conhecidos pelo público, a exposição também proporcionará o contato com obras e experiências inéditas, e até mesmo impossíveis de serem reproduzidas por pessoas de fora de determinados contextos sociais, como os famosos fluxos, ou seja, os bailes que acontecem nas favelas.

“Jovens de Paraisópolis e Heliópolis foram contratados como fotógrafos e videomakers para retratar elementos importantes das realidades locais, como um fluxo ao vivo. Para se adentrar a um fluxo precisa de fato pertencer àquela comunidade, não teríamos conseguido registros audiovisuais de um baile sem sujeitos que fazem parte de lá, e tivessem esse endosso para fazer uma cobertura audiovisual dessa realidade tão rica e própria das periferias”, relata o curador Eleilson Leite. Além dos registros dos fluxos, a exposição também irá proporcionar um ambiente cenográfico do Sarau Elo da Corrente, a partir de uma foto-mural do sarau, e do som ambiente que gravado no próprio evento, possibilitará essa vivência como se os visitantes estivessem nele de verdade. 

Situar o público de que o povo indígena está às margens da cidade, e por isso também compõe sua periferia, irá possibilitar o acesso à conhecimentos como o fato de que somente no município de São Paulo existem mais de 20 aldeias, e inclusive uma cachoeira. No núcleo indígena, também irá ocorrer a reprodução de uma casa de rezas, com áudios gravados da aldeia guarani Tekoa Kalipety. E até mesmo proporcionar o contato visual com elementos naturais da aldeia, como a água da cachoeira Capivari da terra Tenondé, que é a única e última com água limpa dentro do município de São Paulo. 

Outras experiências inéditas serão a exibição de duas pinturas do artista plástico Sidney Amaral, além de um estandarte do bloco Ilu Inã, de autoria de Dona Jacira. 

Carnaval: samba, pagode e blocos afro

Com a aproximação do maior evento cultural de rua, a exposição também trará elementos que rememoram as narrativas de como essa celebração por meio dos blocos afro, das rodas de samba e do pagode dos anos 90 fizeram parte dessa construção. Manifestações como o Samba da Vela, o Pagode da 27, os blocos afro Ilu Obá de Min e Ilu Inã serão exaltados durante o percurso da exposição, e até mesmo capas de discos de grupos, como o Exaltasamba e Sensação, que a partir do movimento do Pagode anos 90 possibilitou outro olhar sobre a humanidade do homem negro e sobretudo, a reflexão sobre a tratativa de mulheres negras nessas canções. 

Até o período final da exposição, que vai até julho deste ano, o museu proporcionará atividades artísticas com base nas obras e movimentos da curadoria, de saraus a batalhas de rap, contemplando também roda de samba e apresentação de bloco afro, a programação detalhada será divulgada ao longo dos próximos meses. 

Com produção da Ayo Cultural e identidade visual do ilustrador e designer Alexandre de Maio, um dos principais nomes do jornalismo narrativo, a exposição que tem ingresso gratuito, seguirá até o dia 28 de julho, e após a inauguração o público poderá ter acesso de terça a domingo, das 09h até às 16h. 


SERVIÇO

Inauguração exposição Intersecções: Negros (as) indígenas e periféricos(as) na Cidade de São Paulo’
Local: Solar da Marquesa de Santos e Casa da Imagem/Museu da Cidade de São Paulo Endereço: R. Roberto Simonsen, 136 e 136B – Centro Histórico de São Paulo, São Paulo – SP, 01017-020
Inauguração: 25/01, 14h-16h
Período de visitação: Terça a domingo, das 09h às 16h, até 28/07

Sobre Museu da Cidade de São Paulo
O Solar da Marquesa de Santos e a Casa da Imagem, espaço onde a exposição está em cartaz, localizados no centro histórico da capital paulista, estão entre as 13 unidades do Museu Cidade de São Paulo, que tem como sede o Solar da Marquesa dos Santos. Identificado com a categoria de museu de cidade (ICOM/UNESCO), além de seus acervos institucionais, o Museu toma a cidade e seus territórios como acervo operacional, sob a ótica interdisciplinar com várias abordagens teóricas, como arquitetura, história, sociologia e arqueologia.
Site | Instagram

Sobre Adriana Barbosa
Adriana Barbosa é CEO da PretaHub, fundadora do Instituto Feira Preta e do Festival Feira Preta, maior evento de cultura e empreendedorismo da América Latina. Em 21 anos, o evento movimentou cerca de R$12 milhões com resultado da contratação de pessoas e venda de produtos e serviços. Em seu currículo, Adriana acumula diversas homenagens e premiações: em 2017 foi homenageada como os 51 negros com menos de 40 anos mais influentes do mundo segundo o Mipad, premiação mundial reconhecida pela ONU; em 2020 foi reconhecida como a primeira mulher negra entre os Inovadores Sociais do Mundo no Ano, pelo Fórum Econômico Mundial; já em 2022, foi reconhecida como uma das 500 pessoas mais influentes da América Latina pela Bloomberg Linea. 

Sobre Nabor Jr
O jornalista Nabor Jr. fundador e co-diretor da revista O Menelick 2o Ato, editor da Legítima Defesa- Uma Revista de Teatro Negro e fotógrafo. Entre outras ocupações, trabalhou como assessor de imprensa do Núcleo de Comunicação do Museu Afro Brasil; foi redator do portal Catraca Livre e assessor de imprensa da Secretaria de Comunicação Social da Prefeitura Municipal de Santo André (SP). Em 2018, como proponente da revista O Menelick 2o Ato, teve o projeto laureado com o Prêmio Prince Claus, em Amsterdã; e foi um dos 33 projetos contemplados no Prêmio Funarte de Arte Negra 2012. Como fotógrafo integrou a exposição coletiva Festival Afreaka: encontros de Brasil e África Contemporânea (2015), na Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo, e a individual Rap paulistano, novas caras, velhas verdades, realizada em 2009, na Casa de Cultura Estação Jovem, em São Caetano do Sul (SP).

Sobre Eleilson Leite
Eleilson Leite é graduado em História (1992) pela FFLCH/USP e tem mestrado em Estudos Culturais (2014) pela EACH/USP. Trabalha na ONG Ação Educativa desde o ano 2000 onde é coordenador da área de cultura criada por ele em 2007 na qual concebeu e coordenou vários projetos, entre os quais: Agenda Cultural da Periferia (desde 2007); Ponto de Cultura Periferia no Centro (desde 2010); Encontro Estéticas das Periferias (desde 2011) e, mais recentemente a Câmara Periférica do Livro, rede criada em 2020 e que reúne atualmente 31 selos e editoras da periferia de São Paulo e outras localidades do Brasil. Paralelamente, criou a Coleção Literatura Periférica, da Global Editora, da qual foi diretor de 2007 a 2012. Organizou o livro Graffiti em SP – Tendências Contemporâneas publicado pela Aeroplano Editora (2013) e desde 2020 é colunista do Site Outras Palavras onde publica quinzenalmente artigos sobre literatura periférica.

Sobre Alexandre De Maio
Alexandre De Maio começou sua carreira no jornalismo editando revistas de Hip-Hop de 1999 a 2009. Em 2006 lançou seu primeiro livro, uma HQ chamada “Os inimigos não mandam flores” (Ed. Pixel), mesmo período em que começou a dirigir videoclipes. Em 2010, entrou no início do site Catraca Livre em que se tornou sócio, e é atualmente Diretor de Audiovisual e Projetos. Desde 2010 vem desenvolvendo uma carreira paralela de Jornalismo em Quadrinhos trabalhando para os principais veículos de comunicação do país como Estadão, Folha, Veja, entre outros, e especialmente a Agência Pública onde ganhou o Prêmio Tim Lopes de Jornalismo Investigativo, em 2013, pela reportagem “Meninas em jogo” sobre exploração sexual infantil. Com diversos prêmios nacionais e internacionais em seu currículo, também é escritor com quatro livros lançados. 

Sobre Ayo Cultural
Desde de 2018, os produtores culturais Gabriel Curti e Julia Brandão uniram-se em uma só figura jurídica para agregar e disseminar suas experiências em prol de projetos culturais das mais diversas naturezas e formatos. Desde 2012 em parceria e em colaborações autônomas com diversas produtoras, produziram mais de 100 projetos culturais dentro e fora do Brasil.