Conheça a MC Má Glock, uma das ganhadoras da BDA em Florianópolis
Conheça um pouco mais da história da Má Glock, Mc de Florianópolis – SC. 1.…
Conheça um pouco mais da história da Má Glock, Mc de Florianópolis – SC.
1. Você começou a batalhar em um cenário majoritariamente masculino. Você se vê como uma inspiração para as outras mulheres também começarem a batalhar?
Má Glock: Sem via de dúvidas, eu lembro o sentimento que tive quando vi uma mulher rimando pela primeira vez ao vivo, a sensação de representatividade, de que tinha alguém ali que entendia a minha luta nesse cenário. É extremamente importante pra mim quando eu vejo que inspiro outras meninas e mulheres a começarem a rimar ou se envolver em qualquer outro elemento do Hip Hop, da a sensação de dever cumprido.
2. Florianópolis tem se mostrado um berço de talentos no rap. Como você vê o crescimento do movimento na cidade e a inserção das mulheres nesse contexto?
Má Glock: Acredito que dia após dia o movimento vem crescendo, principalmente a inclusão de mulheres dentro dessa cena, porém, também acho que ainda temos muito mais a agregar e que as próximas gerações vão ocupar esses espaços com mais igualdade, pois o número ainda é bem desproporcional.
3. O que te inspirou a começar a rimar e qual foi a sua principal referência dentro do rap e das batalhas de rima?
Má Glock: Eu frequento batalha de rima desde o começo da minha pré-adolescência, sempre achei incrível. Comecei no movimento através do slam de poesia, freestyle eu só fazia por hobbie com meus amigos desde os 15 anos, não me sentia confortável em batalhar pois achava o cenário muito machista e também não encontrava muitas mulheres que exercessem seus papéis dentro da cena das batalhas. As minhas principais referências femininas foram Levinski, Ravena e o Winnit que hoje é um homem trans mas na época que acompanhava seu trabalho na batalha se identificava como Toddy e foi uma grande referência feminina pra mim naquela época. Minha caminhada nas batalhas de rima se iniciou de fato aos 18 pra 19 anos.
4. Você acredita que as mulheres no rap têm um espaço ainda limitado ou que o cenário está mais inclusivo? Como você vê a evolução dessa representatividade ao longo dos anos?
Má Glock: Como já mencionei anteriormente, eu acredito sim que o movimento tem sido lentamente mais inclusivo em relação a cena feminina, mas, também acredito que esse espaço ainda é extremamente limitado não só na cena das batalhas de rima como também na cena geral do Hip Hop. Nossas mulheres ainda são muito mal pagas em relação aos homens, assim como não recebem nem metade das oportunidades que os caras recebem. Numa chave de 32 mcs por exemplo (batalha de trio) é dificilmente fechada com 10 a 15 mcs femininas. Lines de grandes festivais de rap dificilmente tem shows de muitas mulheres. Cyphers como poesia acústica, poetas no topo, rua entre outros milhares de projetos normalmente tem até 3 vezes mais mcs masculinos. Enfim, eu posso citar milhares de exemplos claros aonde é nitidamente perceptível essa desigualdade dentro desses espaços mas acho que só esses já mostram o quanto nosso corre é dobrado né?!
5. Em uma batalha, a improvisação é fundamental. Como você se prepara mentalmente para enfrentar adversários e se manter focada, especialmente com a pressão do público?
Má Glock: Eu tento sempre me conectar comigo mesma, com a natureza, com a minha espiritualidade. Tento sempre centralizar meus pensamentos e minha energia em conseguir expressar aquilo que eu quero que tenha voz, que faça sentido. Minhas lutas e as lutas das quais eu acredito e defendo, propósitos, missões, aprendizados e lições. Acredito que a batalha de rima tem muito a agregar na vida das pessoas que tão ali consumindo do movimento, escutando oque os mcs tem a dizer. Muitas vezes a pessoa encosta ali em busca de abrigo, de apoio e quando isso é concedido faz com que a plateia continue comparecendo pra consumir cada dia mais do que o Hip Hop proporciona. Hip Hop é família, é arte! E arte é refúgio. O público e a sua pressão pra mim é uma das melhores coisas, faz com que eu sinta que preciso concluir o pensamento/sentimento que eu fui ali pra partilhar, faz com que eu me alimente da fome que eles tão de escutar. Faz com que eu entenda o meu propósito.
6. Além da rima, como você vê o papel do rap como ferramenta de expressão e resistência nas questões sociais e políticas, especialmente para as mulheres?
Má Glock: Essencial! O rap é isso, é grito de resistência contra o sistema opressor. Ele tem essa função, dar espaço e voz pra quem é visto de forma marginalizada pela sociedade. Luta pelas “minorias” que na realidade é a maioria da população.
7. Em suas rimas, você costuma abordar questões pessoais, sociais ou políticas? Como o seu conteúdo reflete a sua identidade e a luta feminina?
Má Glock: Eu rimo muito com o sentimento, então dificilmente vou com o pensamento 100% formado sobre oque eu quero rimar no dia ou batalha em específico. Claro, tenho as minhas lutas e pautas que eu defendo e sempre costumo abordá-las, mas também creio que o freestyle reflete naquilo que a gente tá vivendo, sentindo, na energia que estamos contaminados no dia. Então, tem vezes que eu rimo sobre coisas pessoais que me afligem, dias que eu rimo sobre problemas sociais que afligem o todo, dias que eu rimo sobre pautas atuais que estão sendo abordadas recentemente, questões políticas e sociais que estão sendo debatidas. E tem dias que eu só quero levar alegria mesmo, então faço minhas piada porque além de fazer as pessoas raciocinar e botar a mão na consciência, eu também quero ver elas felizes e sorrindo. O meu conteúdo reflete quem eu sou e quem eu sou reflete na minha arte, sou transparente na hora de rimar, não to ali pelo jogo, to ali pela liberdade de expressão, pra trazer minha identidade, falar sobre oque eu luto e acredito e ser ouvida e também me conectar com pessoas que compartilham dos mesmos ideais.
8. Florianópolis, apesar de ser uma cidade conhecida por suas belezas naturais, também tem seus desafios no que diz respeito à cultura periférica. Como você acha que a cena de rap pode ajudar a modificar a percepção da cidade em relação a esses espaços e suas problemáticas?
Má Glock: Às pessoas tem uma visão muito limitada sobre não só Florianópolis e Santa Catarina mas também o Sul como um todo. Aqui infelizmente também existe fome, também existe escassez e desigualdade.
É usarmos nosso espaço de fala pra dizer sobre isso, mostrar essa realidade é essencial. Bolar projetos e correr atrás de editais pra trazer essas pessoas até esses espaços que também são destinados a elas é fundamental, investir na cultura e na educação é necessário para formar gerações melhores, a luta não para é só depende de nós conseguirmos levar isso pra frente.
9. Quais são seus próximos passos na carreira? Há algum projeto, batalha ou colaboração que você gostaria de destacar e que está por vir?
Má Glock: Quero conseguir encostar em batalhas em outros estados pra também agregar na minha vivência nas batalhas de rima. Conseguir movimentar mais as minhas redes sociais focadas na minha arte pra assim gerar oportunidades, pois por aqui é tudo orgânico, sou artista independente então o corre é dobrado com a falta da moeda pra investir na carreira. Esse ano de 2025 quero focar em lançar meu primeiro som solo pois até então só tenho participações e cyphers. Inclusive o último projeto que eu participei foi uma cypher produzida pela Bushido e lançada no canal do Nocivo Shomon, um som com 6 mina FODA! Escutem GUERREIRAS DO ANONIMATO ❤️🔥