Oficina de iluminação agita Jovem de Expressão na Ceilândia
Segunda edição do projeto “Luz Negra: a iluminação cênica como ferramenta de identidade racial” reúne…
Segunda edição do projeto “Luz Negra: a iluminação cênica como ferramenta de identidade racial” reúne alunos em oficina de capacitação para introduzir e profissionalizar pessoas do DF na área de iluminação cênica, debatendo sobre a presença e a importância de pessoas negras e periféricas nos bastidores e nos holofotes.
Em seu primeiro dia, o projeto ocupou uma das salas de aula do Jovem de Expressão, espaço cultural alternativo da Ceilândia, em tom de confraternização e boas-vindas. Os alunos foram recebidos e apresentados para a equipe do Coletivo Ori-gens e puderam falar um pouco de suas trajetórias dentro e fora da arte, compartilhando suas expectativas para o curso.
Quem conduziu a aula foram os arte-educadores Jullya Graciela e Matheus Trindade, iluminadores e artistas que conceberam essa iniciativa. Durante os minutos iniciais, eles contaram as razões que motivaram a criação do projeto, suas experiências e trajetórias enquanto pessoas negras dentro e fora do palco. Jullya relata, por exemplo, diversas ocasiões em que “ficou no escuro” em apresentações teatrais ou fotos de divulgação.
Diante dessas dificuldades, marcas de invisibilidade e descaso, veio a inspiração para o projeto. Diz Matheus:
“Luz Negra surge como uma inquietação minha e da Jullya na busca por uma iluminação adequada às peles negras. Por anos, nas encenações teatrais em que estávamos envolvidos, mesmo aquelas que tratavam a temática racial, raros eram os diretores que se preocupavam com as especificidades da luz naquele corpo negro a ser iluminado. Assim, o projeto surge com o intuito de descortinar violações diversas que esses corpos negros sofrem ao serem iluminados nos grandes teatros, mas também instigar a criação de um fazer artististico afro centrado e que veja a iluminação como ferramenta de identificação racial.”
A oficina, além de buscar desenvolver a técnica requerida para a atuação profissional, dispõe-se a estimular as capacidades críticas e criativas dos alunos na confecção de iluminação para espetáculos. A diversidade no perfil dos alunos, que vai de iniciantes até pessoas com anos de atuação na área, segundo Matheus, contribui para o enriquecimento da experiência e fomenta discussões importantes sobre racismo, desigualdades e condições de trabalho.
Desde o início das aulas, os alunos tiveram momentos teóricos, mas também exercícios práticos em contato com os equipamentos técnicos recém-adquiridos.
Parcerias e novidades
A primeira edição do projeto aconteceu no Gama-DF, em parceria com o Teatro SESC Paulo Gracindo. Nesse espaço plenamente equipado, os instrutores e alunos tiveram a oportunidade de trabalhar com o melhor dentro dos espaços convencionais do Distrito Federal.
Nessa edição, além da oficina, o projeto visa expandir o seu impacto promovendo a aquisição de equipamentos de iluminação e cenotécnica para o Jovem de Expressão na Ceilândia. Para Jullya e Matheus, essa mudança significa uma aproximação maior com os objetivos iniciais do projeto e com o público negro e periférico, “gente como a gente”, diz Jullya. Assim, ao sair de um local equipado com as tecnologias mais recentes no ramo e ir para um mais precário, os artistas acreditam estar contribuindo para a democratização da arte e a continuidade das iniciativas culturais da periferia.
Prêmios e Reconhecimento
No ano de 2023, a primeira edição da Oficina Luz Negra foi vencedora do Prêmio Sesc +Cultura na categoria de “Inovação e Originalidade”, um reconhecimento que reafirma a importância e o impacto deste projeto na cena cultural do Distrito Federal.
Finalização das Oficinas
A segunda edição da oficina Luz Negra será concluída com a concepção conjunta de uma iluminação para uma performance convidada. Assim, os alunos terão a oportunidade de colocar todo o seu conhecimento em prática para dar vida e potencializar a cena. A performance “Assalto à Cor Armada” será apresentada nos dias 3 e 4 de agosto no Jovem de Expressão, trazendo “cenas do cotidiano, que a maioria das pessoas pretas já passaram em algum momento de sua vida”, segundo Jullya, quem também se encarregou da direção.
Após as apresentações haverá uma roda de conversa, com mediação cultural, como forma de promover reflexões sobre as relações étnico-raciais nas artes cênicas e fomentar o debate sobre as condições trabalhistas dos profissionais da arte técnica do Distrito Federal.
Sinopse:
A cena fragmentada do espetáculo “Assalto a Cor Armada” perpassa em torno de um homem preto que, por causa de seus traços marcantes e sua pele escura, provoca medo e desconfiança onde quer que passe. Entre revoltas, denúncias, indagações, seu corpo preto não mostra apenas a discriminação imposta por uma sociedade racista, mas revela ao público sua realeza ancestral, utilizando a corporeidade dos orixás e a dança que há muitos anos vem sendo esquecida e apagada da nossa história como força motriz de transformação.
Datas e horários: 3 de agosto às 18h, 4 de agosto às 17h.
Local: Jovem de Expressão, Praça do Cidadão, Ceilândia-DF.
Entrada Franca (sujeito à lotação).
As apresentações contarão com Audiodescrição e Interpretação de Libras. A oficina acontece aos sábados das 9h às 17h no Jovem de Expressão, até o dia 3 de agosto.