Zezé Mota - Foto Divulgação

Zezé Mota lança “Desprotegidos Pela Sorte”

“A força da arte contra a cegueira ideológica e a miséria dos nossos dias” –…

“A força da arte contra a cegueira ideológica e a miséria dos nossos dias” – é a partir desse mote que se dá o encontro entre Zezé Motta, Ronaldo Bastos, César Lacerda e Leo Pereda; que lançam, através do selo Dubas, a canção inédita “Desprotegidos pela Sorte”

NEGRITUDE

Zezé Motta, 77, atriz e cantora, é uma referência absoluta das artes no país, e, ainda além, um dos principais ícones da negritude brasileira. Iniciou a sua exuberante trajetória como atriz no fim dos anos 60, mas foi ao protagonizar a personagem Xica da Silva, no icônico filme homônimo dirigido por Cacá Diegues, que sua carreira foi projetada internacionalmente, em 1976. Foi também nesse período, que Zezé iniciou sua carreira fonográfica. Primeiro, ao lado de Gerson Conrad, em 1975, e depois com seu disco solo de estreia, “Zezé Motta (Prazer, Zezé)”, de 1979.

De lá para cá, o Brasil viveu metamorfoses múltiplas – do trágico golpe militar à retomada da democracia, da chegada da centro-esquerda ao poder à tomada de poder pela ultra-direita conservadora. E em todos esses momentos, Zezé enfrentou com ativa liderança os desafios de protagonizar debates a respeito das questões raciais no país (com suas intersecções nas lutas feministas e de classe) através de sua arte sempre tão reveladora. Vale lembrar, a título de exemplo, da personagem “Sônia“, vivendo uma criticada relação inter-racial na novela de Gilberto Braga “Corpo a Corpo”, de 1984; vale, também, lembrar do corpo-negro e nu de Zezé ao cantar canções de Luiz Melodia e Caetano Veloso em seus espetáculos musicais, transitando para muito além da objetificação e da publicidade.

Em 2021, Zezé Motta, somando quase 60 anos de carreira artística, retorna em grande estilo ao mercado fonográfico. E no dia que antecede a comemoração do Dia Nacional da Consciência Negra, interpreta a canção-manifesto “Desprotegidos pela Sorte”.

DESPROTEGIDOS PELA SORTE 

A canção, uma parceria entre Ronaldo Bastos, César Lacerda e Leo Pereda, versa sobre as ruínas do agora, de um Brasil assolado pelos estilhaços de uma guerra interior. A letra de Ronaldo Bastos, 73, um dos mais exitosos e importantes letristas do Brasil de todos os tempos, e de Leo Pereda, 47, é feroz ao denunciar a degenerada devastação do país, com suas imagens aterrorizantes e suas personagens diversas, dilaceradas pela omissão dos poderosos: “Desprotegidos pela sorte/ Jogados na sarjeta/ Comendo lixo na rua/ Pedindo esmola na porta dos bancos/ Assaltando o ônibus/ Sendo assaltados pelo patrão/ Desprotegidos de nós mesmos/ Desprovidos de cólera santa”. No entanto, sua ferocidade dá espaço para a resistência e o sonho de imaginar um futuro renovado de sentidos: “Os excluídos do banquete um dia vão se fartar de festa, trabalho, pão, Gil e Capinan”, em versos da estrofe criada por Leo Pereda, nascido em Montevideo, Uruguai, durante a terrível ditadura que assolou aquele país entre 1973 e 1985, e radicado no Brasil desde 1999, onde tem desenvolvido um importante trabalho como produtor musical e pesquisador da música brasileira moderna.

“Desprotegidos pela Sorte”, idiomaticamente assentada entre os territórios do hip-hop e da canção pop contemporânea, foi musicada pelo jovem cantor e compositor César Lacerda, 34, que também assina a produção musical da faixa e divide os vocais com Zezé Motta no refrão: “Ataque/ O mundo está em nossas mãos/ Ataque/ Contra a cegueira e a miséria”. A produção musical segue a estética do disco recém-lançado pelo artista, “Nações, Homens ou Leões”, cujas bases eletrônicas foram todas programadas por ele em um telefone celular. A complexa paisagem sonora criada pelo músico e compositor mineiro para essa canção sublinha aspectos relevantes da letra, evidenciando uma teia intrincada de sentidos entre letra e música.

O encontro entre gerações, atravessado por uma dimensão tecnológica na produção artística, evidencia o desejo que une os quatro artistas em torno de uma mesma questão: o futuro do Brasil. Um país que tem as condições de orientar o mundo sobre novas formas de existir no planeta. Mas que para alcançar essa sua aptidão, precisa antes tomar as rédeas de sua própria história, voltando os olhos para si e para os seus.

A canção, que já está em todas as plataformas digitais pela Dubas, será acompanhada de um clipe dirigido por Fernando Neumayer da Tocavideos. Gravado no Rio de Janeiro, cidade repartida em mil fragmentos trágicos, o clipe expõe imagens dos artistas presentes na canção, mas também personagens diversos fotografados por Marcos Vinicios de Souza, fotógrafo carioca nascido no Morro dos Prazeres, responsável pela foto de capa do single.

Confira: