Confira “O Desespero de Odete” clipe de Yago Oproprio e Murica
Um samba sobre a barbárie...
Homenagem às mães de maio, o samba rap de Yago Oproprio e Murica conta o martírio de Odete, personagem cujo filho foi assassinado pela polícia. Para além de uma crônica do cotidiano violento Odete apresenta o panorama de um país à beira do caos social.
O retrato do país que elimina sua população, principalmente a preta, fica evidente quando evocados Xangô, Iemanjá, deuses de matriz africana, pela mãe que chora. Mas, o desespero de Odete está longe de ser uma grita cheia de fúria, surpreendentemente a obra dos jovens artistas apresenta a escalada de terror com leveza e distanciamento poético.
Não significa indiferença diante a tragédia, mas sim a casca dura de quem passa a conviver com a barbárie. Embora a canção devote respeito a santos e caboclos, marcado traço de sincretismo religioso, deixa nítido que a solução não virá dos céus. Assim como em Amor Incendiário (Yago o Próprio) a solução virá da ação direta contra os inimigos.
A narrativa da injustiça e impotência diante da brutalidade do Estado ganha contornos de rebelião.
Murica apresenta a solução que mais parece um programa de guerrilha urbana com direito, a resgates históricos conectando a ditadura de 64 no Brasil com as mazelas atuais e ameaçando de forma jocosa a guilhotina para o presidente numa sagaz conexão com a revolução francesa. Aliás a revolução é a palavra de ordem junto de estudo e organização. O Desespero de Odete deixa uma mensagem de esperança em que não “vê a fita dominada”, a juventude não está dormindo e prenuncia a mobilização popular.
O som conta com a produção musical de BEATDOMK, Produção Executiva de Paulo Cavalcante, Produção Audiovisual por Giramundo Filmes,
Assista agora o videoclipe oficial de “O desespero de Odete”:
Letra “O Desespero de Odete” – Yago Oproprio e Murica
Eu ouvi Odete pedindo socorro
duas da tarde no morro brejão santa luz
e os home que invadiro
sentaram o pipoco
e ela com os filhos nos braços
fez sinal da cruz
Papacificando a quebrada inteira
chega sexta-feira
dia de crachá
papacificando o filho leva um tiro
foi correr perigo
indo trabalhar
Sangue mistura-se com lágrimas
que lástima
olha pro céu quer se enganar
reza pra santos e caboclos
de toda fé
será que deus vai me ajudar?
apelou pra xango balaô yemanja
nada disso vai adiantar
leva consigo o desespero
da certeza de saber
de que não vai ver o filho crescer
[Refrão]
Eu ouvi Odete pedindo socorro
duas da tarde no morro brejão santa luz
e os home que invadiro
sentaram o pipoco
e ela com os filhos nos braços
fez sinal da cruz
Murica:
Ela clamou por Jesus, Allah, Shiva
qualquer um lá de cima
venha me acudir
mas quem diz se eu for polícia, quirimba, malicia
Odete gritou até não “guentar” mais
sob o sol nada novo e o povo
segunda feira já esqueceu
quem já matou quantos morreu
e os frutos que ano de 64 deu
não com nóis não
sangue bom
se esqueceu que nois é “malan”
e o que vira é a revolução
não vejo fita dominada
Falta estudo e organização
estratégia e aplicação
presidente em decaptação
e um samba pra ouvir com a rapa!
[Refrão]
Eu ouvi Odete pedindo socorro
duas da tarde no morro brejão santa luz
e os home que invadiro
sentaram o pipoco
e ela com os filhos nos braços
fez sinal da cruz