Há 27 Anos, Racionais MC’s Lançava o Clássico “Sobrevivendo no Inferno”
Em 20 de dezembro de 1997, o rap brasileiro ganhava um marco histórico: o lançamento…
Em 20 de dezembro de 1997, o rap brasileiro ganhava um marco histórico: o lançamento do álbum “Sobrevivendo no Inferno” dos Racionais MC’s. Vinte e sete anos depois, a obra continua reverberando e sendo considerada um dos álbuns mais importantes do rap mundial.
Lançado pela gravadora Cosa Nostra, “Sobrevivendo no Inferno” é o segundo álbum de estúdio do grupo e rapidamente se consolidou como um dos pilares do rap nacional. O álbum alcançou a marca de 1,5 milhão de cópias vendidas, um feito notável para uma gravadora independente.
O impacto cultural e a relevância da obra são inegáveis. Em 2007, a Rolling Stone Brasil o incluiu na 14ª posição da lista dos 100 melhores discos da música brasileira. Em 2015, o então prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, presenteou o Papa Francisco com uma cópia do álbum.
A importância de “Sobrevivendo no Inferno” transcendeu os limites da música. Em 2018, a Comvest (Comissão Permanente para os Vestibulares da Universidade Estadual de Campinas) o incluiu na lista de leituras obrigatórias para o vestibular da Unicamp a partir de 2020. No mesmo ano, a obra foi adaptada para livro pela Companhia das Letras, contendo 160 páginas com fotos inéditas e informações sobre o grupo.
Ver essa foto no Instagram
“Sobrevivendo no Inferno” foi o primeiro trabalho dos Racionais MC’s a apresentar referências bíblicas, como a frase do Salmo 23, Capítulo 3, presente na capa: “refrigere minha alma e guia-me pelo caminho da justiça”. As letras abordam temas como desigualdades sociais, miséria e racismo, com destaque para as faixas “Diário de um Detento” (inspirada no diário de Josemir Prado, ex-detento do Carandiru), “Fórmula Mágica da Paz” e “Mágico de Oz”. O álbum também inclui uma homenagem a Jorge Ben Jor com a regravação de “Jorge da Capadócia”. Os arranjos musicais caracterizam-se pela simplicidade, com bateria básica e melodias nos teclados.
A Revista Rolling Stone Brasil destacou que “Sobrevivendo no Inferno colocou o rap no topo das paradas, vendendo mais de meio milhão de cópias. A música, com sua bateria básica, alguma melodia nos teclados, e arranjos simples, vira adereço em relação ao impacto das letras. Racismo, miséria e desigualdade social — temas cutucados nos discos anteriores — são aqui expostos como uma grande ferida aberta, vide ‘Diário de Detento’, inspirada na grande chacina do Carandiru”.
O professor de literatura brasileira Acauam Silvério de Oliveira descreve a estrutura do álbum como uma liturgia, comparando-a a um culto com introdução, cânticos, leitura da Gênesis, apresentação do pastor e relatos de testemunhos. O sociólogo Tiaraju D’Andrea ressalta que a obra cunhou um conceito de orgulho, ressignificando a palavra “periferia”.