Macarrão (O Cronista) Lança EP “Meu Gueto” com Rap Intenso e Reflexivo nas Plataformas de Streaming
Nome conhecido na cena underground do rap carioca, Macarrão (o Cronista) lança em plataforma digital…
Nome conhecido na cena underground do rap carioca, Macarrão (o Cronista) lança em plataforma digital “Meu Gueto”, EP com músicas gravadas entre 2009 e 2011.
O álbum reúne seis faixas até agora só ouvidas pelos fãs e frequentadores da cena hip hop no Rio de Janeiro. Como crônicas, as letras trazem a visão do artista sobre o dia a dia na periferia da cidade, incluindo não só os dramas e a violência, mas a diversão, os amores e a sua rotina de apontador de jogo do bicho. Com uma musicalidade suave, próxima da soul music, batida envolvente e elegante, o EP foi produzido por André Gomes, músico, produtor e arranjador, que já trabalhou com Baby do Brasil, Gabriel Pensador, Cássia Eller, Marina Lima, Fernanda Abreu, entre outros. O disco está disponível nas plataformas Amazon Music, Apple Music, Deezer, Spotify, Tidal e YouTube Music, distribuído pela Brazil Deluxe.
Macarrão é visto como uma voz autêntica dos guetos cariocas e, através dos relatos de suas músicas, muita gente acaba por se identificar. Criado na Vila Mimosa, antiga zona de meretrício do Rio, sem a presença do pai, em meio a uma rotina de pobreza, exclusão social, criminalidade e drogas, Macarrão transforma seus dramas em música. Em 2007, lançou o CD “O Diário”, seu primeiro trabalho solo, com 16 faixas. Em 2009, lançou “Meu Gueto”, que circulou apenas entre os amigos e os fãs, sendo vendido de mão em mão. Além de narrar a vida nas periferias, o nome do disco tem um quê de desabafo também: “Com ‘Meu Gueto’ me refiro ao mercado de música independente excluída da programação das rádios e do radar das gravadoras”, pontua Macarrão, que nos últimos quatro anos vem lançando singles em parceria com André Gomes, que também é multi-instrumentista. “André tem um trabalho de extrema qualidade. Ele não produz a partir de samples, ele toca todos os instrumentos”, revela Macarrão.
O EP começa com “Meu Gueto”, um retrato da rotina de quem vive nas favelas, incluindo o churrasco na laje, o futebol, a curtição de fim de semana, a zoação com os amigos, o tráfico, o carteado, a malandragem. Em seguida vem “O que aconteceu”, um salve ao rap raiz de favela, uma crítica ao aburguesamento do gênero musical e seu “empacotamento” para consumo rápido. “A bandeira mudou” conta o drama do morador quando uma nova facção invade a comunidade. De uma hora para outra é preciso lidar com novas regras, novas rotinas e até novo vocabulário – usar a gíria errada pode significar uma sentença de morte.
“Rua não dá pra fingir” fala sobre os rapeiros bem-nascidos que simulam ser da ralé. “O playboy acha que para ter legitimidade dentro do rap precisa ser bandido, pobre ou favelado”, explica Macarrão. “Estilo contravenção de amar” narra uma história de amor surgida na banca do jogo de bicho, onde Macarrão ganhou a vida por anos. Do primeiro rolê até a noite quente no motel, acompanhamos o desenrolar da paixão. Em “Aonde você estava”, o tema é a ausência paterna. Estão lá as dores pelo abandono do pai, a dificuldade de crescer longe dele e a falta do braço forte na hora da morte do irmão, do tio e da mãe.
SOBRE O EP “MEU GUETO”:
As músicas foram produzidas por André Gomes entre 2009 e 2011, e só agora foram disponibilizadas em plataformas de streaming. O EP foi lançado em CD artesanal em 2011. O artista vendia o disco no camelódromo da Uruguaiana, de mão em mão, e suas músicas estavam espalhadas pelas redes ou armazenadas em celular. Agora ele conseguiu compilar todas novamente e pode enfim disponibilizar no mundo digital. O EP traz músicas como “A Bandeira Mudou”, que fala sobre o drama da mudança de facção, “Rua não Dá pra Fingir”, que fala sobre playboy no Rap fingir que é favelado etc. São sete faixas, mas a música “Vila Mimosa” subiu como single.
QUEM É MACARRÃO (O CRONISTA):
Pai de três filhos, avô, rapper, roteirista amador, amante incondicional da música e das artes e filho orgulhoso da Zona Norte do Rio de Janeiro. Nascido em 1969, em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, Macarrão se mudou ainda pequeno para o bairro do Estácio, na antiga zona do mangue carioca, que mais tarde se tornaria Vila Mimosa. Lá passou a infância, sendo criado pela mãe sozinha, com os irmãos pequenos.
Um dos seus primeiros contatos com a black music foi ainda criança, acompanhando o tio Dentinho, que promovia bailes na Vila Mimosa. Depois, convivendo com os punks que frequentavam a área, conheceu o hardcore. Nos encontros no fliperama, trocavam ideias e compartilhavam zines. Com três deles formou a banda IML (Insubordinados Mortos e Libertários), na década de 90, atuando como front man. Isso acabou por mantê-lo longe dos problemas que assolavam o bairro, como as drogas, a prostituição e a jogatina. A banda fez relativo sucesso. Tocaram no Festival Balaio de Gato e abriram shows do Cólera, Charlie Brown Junior, entre outros. O grupo participava da banca de punk “Ecatombe”, famosa pelas confusões no underground carioca e porradarias com os góticos, carecas, bangers e outros grupos.
No início da década de 90, Macarrão passa a frequentar a rua 13 de Maio, no Centro, ponto de encontro de tribos na busca por camisas de banda, vinis e informações sobre shows nos subúrbios da cidade. Ali ele conhece Skunk, um dos fundadores do Planet Hemp, que o presenteia com uma fita cassete com músicas dos Racionais MC’s e Thaíde. “Quando escutei Racionais, aquilo fez uma revolução na minha cabeça. Até então não tinha conhecimento de que esse tipo de rap estava sendo feito no Brasil, conhecia apenas os raps cantados nos bailes funks. Os Racionais falavam da minha realidade, de uma forma que eu entendia e como se fosse um manual das ruas. Decidi que era isso que eu queria fazer”, conta Macarrão, que nessa época, ganhava a vida como apontador do jogo do bicho.
No final dos anos 90, conheceu o DJ A, que trabalhava numa loja de CD em Madureira, especializada em rap. Macarrão mostrou a ele suas primeiras letras, entre elas uma sobre o drama de mulheres parentes de detentos, que, para visitá-los no presídio, passavam por situações constrangedoras, submetendo-se a revistas ginecológicas. Com DJ A gravou “Rotina de Visita”.
Em 2001 foi procurado pelo diretor de cinema Guilherme Coelho para participar do documentário “Fala Tu”. As filmagens seguiam quando Macarrão sofreu um revés: sua esposa faleceu durante o parto do filho do casal e as gravações foram interrompidas. Meses depois, concluída a filmagem, ele foi convidado também para participar da trilha sonora do longa, seguindo para São Paulo, sua primeira viagem fora do estado, onde conheceu os Racionais. Com Mano Brown produziu “Ladrão vai orar” e com Edy Rock produziu “Estácio”. Em seguida, DJ Luciano, então o produtor do MV Bill, produziu “Bagulho doido”. Graças a todo esse apoio, Macarrão conseguiu incluir quatro músicas no CD que trazia a trilha sonora do documentário Fala Tu. Os 10 mil exemplares do álbum foram vendidos.
Pouco tempo depois, Macarrão conheceu Pixote, produtor carioca, gravando com ele seu primeiro disco solo, “O Diário”, em 2007, pela Criarte Records. Entre os destaques do álbum estão “Desabafo”, em que Macarrão conta como se sentia a respeito da morte da esposa e como foi ter que cuidar sozinho dos filhos após a partida dela.
No momento, Macarrão se dedica a gravar singles em parceria com o músico e produtor André Gomes, com quem trabalha há cerca de duas décadas. Lançou com ele “Perdão”, que fala sobre machismo e redenção. Outra produção recente da dupla é “Guerra de Espelhos”, que fala sobre a guerra cega do tráfico que não consegue enxergar que são pobres matando pobres. “A Culpa não foi sua” fala sobre a saga da família com a sua mãe, que faleceu vítima da AIDS, no início da pandemia. E “Desabafo R.I.P. Monica” é uma homenagem a sua falecida esposa.